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Por que as mulheres se acham feias?


Um dos pontos que mais chamam minha atenção no meu trabalho com mulheres é a frequência com que a insatisfação com a aparência surge como uma demanda, mais cedo ou mais tarde, durante o processo de psicoterapia. Algumas mulheres chegam com essa demanda já na primeira sessão: querem melhorar a autoestima, se sentem feias a ponto de ter sérias limitações na vida social (evitam sair de casa por vergonha de si mesmas). Em outros casos, essa questão demora a aparecer, mas quase sempre aparece e geralmente acompanhada da mesma ideia: “Eu seria mais feliz se fosse mais bonita”. É essa a ideia que a mídia vende, é essa a ideia que as mulheres compram.

Um ponto importante de ser esclarecido sobre isso é que, ao contrário do se imagina, não existe uma forte relação entre a autoimagem de uma mulher e o fato de ela corresponder ou não a padrões sociais de beleza, ou seja, ao fato de ela ser socialmente considerada uma mulher bonita ou não. Esse padrão de comportamento de se esconder por vergonha de si mesma aparece também em mulheres que se adequam ao padrão feminino de beleza: loira, magra, cabelos lisos, etc.

As mulheres que não se adequam a esses padrões limitadores têm elementos reais pra se sentirem excluídas do que é considerado belo: as mulheres gordas, as mulheres negras, todas as que, por algum motivo, estão definitivamente fora dos padrões culturalmente impostos de beleza feminina. Isso é real e é causa de solidão e sentimentos de exclusão nessas pessoas. Porém, o que quero dizer é que existe uma grande ilusão de que as mulheres que supostamente se encaixariam no tal “padrão” sentem-se bem consigo mesmas, conseguem se achar bonitas e estão isentas a desenvolver complexos de inferioridade relacionados à própria aparência. Isso não é verdade.

Mulheres são exaustivamente cobradas a serem bonitas e isso se impõe em nossas vidas desde que somos muito pequenas. Na publicidade, na mídia, a imagem do corpo feminino ganha destaque, evidenciando o lugar que a mulher deve ocupar na sociedade: um corpo em constante análise, em constante avaliação. É assim que as mulheres se sentem ao caminharem pelo espaço público. E é fato: olhares e comentários confirmam isso. O aspecto físico ganha destaque na vivência subjetiva feminina, definindo uma parte grande da autoimagem e autoconceito das mulheres.

Observe qualquer site de fofocas sobre pessoas famosas. Os corpos das mulheres são avaliados da mesma forma como se avalia um objeto a ser comprado, à procura de imperfeições que possam diminuir seu valor. Nesses sites de entretenimento, é notável como a aparência e a vida privada das mulheres são levadas a julgamento público.

Espetáculo do mundo, objetos decorativos prontos a tornar o mundo mais agradável aos olhares dos homens: eis o lugar reservado às mulheres em uma cultura heteropatriarcal. E, dessa forma, a relação das mulheres com seu próprio corpo, uma relação que deveria ser a mais profunda e bonita, passa a ser cruelmente intermediada por imposições limitantes e supérfluas. As mulheres passam a não se apropriar de seus corpos, de si mesmas. Não vivem a plenitude desse instrumento maravilhoso que é o nosso corpo físico e introjetam a superficialidade na maneira de se ver, passando a adotar um olhar extremamente cruel consigo mesmas. A partir do momento em que o julgamento social é internalizado psiquicamente, ele não precisa mais de elementos reais que o comprovem. É aí que a mulher passa a ter certeza do que enxerga - “sou feia e sei disso” - pois o olhar à procura de defeitos em um objeto a ser comprado passa a funcionar dentro de si mesma. Ao se olhar no espelho, tudo o que desagrada salta aos olhos. O que agrada não consegue mais ter importância, quando ainda existe.

Não somos objetos decorativos, somos humanas, temos que nos apropriar de nós mesmas e dos nossos corpos. Me apropriar do meu corpo significa entender esse corpo como algo que é meu, que está a meu serviço e não tem a obrigação de se enquadrar em padrões e nem agradar a ninguém. Significa viver a minha relação com esse corpo da maneira mais plena possível. Esse exercício deve ser constante para nós, mulheres, pois somos diariamente bombardeadas por estímulos, imagens e representações que dificultam imensamente esse processo, dada a forma degradante como o corpo feminino é representado e tratado em nossa cultura. O auge dessa degradação pode ser encontrado em alguns contextos específicos, mas não vamos desenvolver esse ponto nesse texto. O que esse texto pretende é apenas deixar a reflexão para cada mulher que lê-lo:

De que forma você tem permitido que imposições culturais se coloquem entre você e seu próprio corpo? Vamos tentar nos libertar disso?

Juntas, nós podemos.

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